Salve-se quem puder: crianças, adolescentes e redes sociais saíram do controle?

Olá, pessoal!

Neste texto queremos falar de medos e outras apreensões que podem rolar entre pais e educadores na hora de orientar crianças e jovens no uso das redes sociais. A verdade é que educadoras, educadores e famílias em geral já têm seus pratos cheios de responsabilidades, deveres e tarefas no dia a dia e, quando estão diante de mais uma preocupação, a sensação de ansiedade pode, de fato, tomar conta. Muitas vezes experimenta-se também a falsa obrigação de saber tudo, como se nós, adultos, tivéssemos o dever de ser detentores da verdade o tempo todo. Porém, não se engane: assumir o descontrole e/ou a ignorância pode revelar outros caminhos para ajudar crianças e jovens a relacionar-se com as mídias digitais, já que nós (professores, pais e responsáveis) também temos muito a aprender com eles.

Por que, então, não perguntar a eles como esta ou aquela rede social funciona, do que eles mais gostam em cada rede e/ou o que costumam acompanhar e publicar em cada espaço?

De fato, colocar crianças e adolescentes no centro desse processo, estimulando que compartilhem o que conhecem dos ambientes virtuais, e também o que desejam aprender ou desenvolver no amplo universo das trocas digitais, é um movimento que não apenas nos auxilia a tirar essa pressão e peso das costas, como também pode ser fundamental para a promoção do diálogo e do compartilhamento de saberes em casa e na escola. No campo da educação, ações como essa se aproximam de propostas como a das  metodologias ativas, bastante comentadas na atualidade. 

Afinal, seria muito prepotente da nossa parte pensar que somos detentores de todo esse saber com o qual eles, já desde bebês, interagem. 

Aos educadores de plantão, não se trata de inventar a roda novamente, não.

As metodologias ativas se baseiam na participação dos estudantes, daí a razão do termo “ativas”.  Trata-se, muito mais, de redirecionar a atenção, caminhar para a tal carteira ao invés de se colocar diante da lousa. Tirar a aluna/aluno da passividade e deixar o controle se esvair um pouco. Apesar de muito valorizadas no presente, os fundamentos das metodologias ativas não são necessariamente novos, pois a compreensão de que a aprendizagem deve ser partilhada entre professores e estudantes, considerando o repertório dos sujeitos e o contexto em que vivem e atuam, é um dos pontos defendidos por Paulo Freire e por outros importantes teóricos da educação no Brasil e no mundo. 

E como uma proposta de educação “ativa” e partilhada pode acontecer na prática? Existem algumas formas de se fazer isso, algumas que exigem maior ou menor planejamento.

Uma das opções é apresentar aos alunos um problema, uma situação da vida real, por exemplo: “minha avó não para de enviar desinformação no whatsapp” e acompanhar com eles a busca de alternativas para essa questão. Assim, o planejamento pode surgir ao longo do próprio processo e interação entre os pares, a partir da observação crítica do educador e das questões que os próprios alunos levantarão. 

Outra ainda é a abordagem de trabalhos com projetos.  Quando trabalhando ou planejando-se para projetos, é importante termos em mente perguntas direcionadoras que irão, aos poucos, estruturando o processo. O que iremos fazer? Por quê? Para quê? Para quem? Tais perguntas podem – e talvez até devam – ser direcionadas aos estudantes, que poderão trazer mais do que lhes interessa, do que conhecem, do que desconhecem.  

Ok, mas eu não sou educadora/ educador, como isso pode me ajudar? 

Bom, ao invés de passar horas e horas em um diálogo interminável com o Google digitando “como usar o TikTok” ou “como fazer minha filha/ filho usar menos o TikTok”, uma boa saída poderia ser inspirar-se nessas metodologias para repensar o papel de “responsável” e entregar algumas responsabilidades nas mãos de adolescentes e crianças.

As redes sociais são, afinal, um território que desperta o seu interesse, no qual eles se sentem confortáveis, dentro do qual e a partir do qual eles tem uma voz – ativa e política – com a qual eles se comunicam e mantêm relações – algo tão necessário em tempos de pandemia. Por isso, não há motivo para retirá-los de um dos lugares em que eles podem se sentir aceitos e ao qual realmente pertencem, afinal, não é todo dia que sentimos essa sensação de pertencimento, ainda mais quando adolescentes. 

Porém, além de compreender a importância que os espaços digitais têm na vida de crianças, jovens e adolescentes, aqueles que orientam sua formação (educadores, pais e responsáveis) devem questioná-los, pois para agir com responsabilidade e autonomia nas redes é preciso pensar por que estar ali, como se colocar ali, etc.

O fato é que não queremos uma geração de “folhas ao vento” que se deixam levar por qualquer mudança proposta pela moda. Exemplo disso são as explosões que cada nova rede social provoca, como ocorreu recentemente com o Tik Tok. Mas, como você agiu nessa ocasião? Você perguntou para seu filho por que baixou o Tik Tok? Perguntou para sua aluna qual o interesse dela no Tik Tok? Ou por que fulano começou a gravar vídeos para o Tik Tok? Enfim. As constantes mudanças e inovações tecnológicas nos trazem o tal do descontrole em que, muitas vezes, se torna mais agradável sentarmos entre os nossos e reclamarmos sobre as novas gerações, abrindo crateras de distância entre as experiências nossas e as deles. Em todo caso, acreditamos que as vivências são diferentes, então, podemos usar a diferença como ponto de partida. Ou seja, proibir novos hábitos talvez não seja o melhor caminho, pois se você negar o acesso ao aplicativo “X”, logo mais estarão usando o aplicativo “Y”. 

O que fazer, então, se de tempos em tempos novos aplicativos de comunicação vão aparecer e cair no gosto da garotada? 

O melhor que podemos fazer é ajudá-los a questionar e compreender as razões daquilo que se faz na esperança de que isso os leve a fazer escolhas mais conscientes, a agirem mais criticamente , e que possam refletir sobre tudo isso entre si, individual ou coletivamente .quando for a vez deles de encarar as novas gerações. Mais uma vez, a nossa dica para lidar com os medos e inseguranças quanto à crescente presença das mídias e da mediação tecnológica em nosso dia a dia, é o diálogo e a partilha, considerando que temos muito a aprender e construir em parceria com as novas gerações.

Esperamos que a reflexão tenha sido boa! Até a próxima!

Tags:

educação, metodologias ativas, midia, planejamento, redes sociais

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